Outubro Rosa - Felicidade. A força de sempre querer viver

Plantão Ceará | 14:24:00 | 0 comentários


Difícil uma paciente acometida de câncer de mama não se desfazer, por algum momento mínimo, de seu ideal de vida. As rotinas obrigatoriamente mudam, se desfazem. O corpo muda, a cabeça, o sorriso. O cabelo geralmente cai, a mastectomia (retirada da mama) poderá ser inevitável. Difícil não fraquejar, não baquear. Ilná Escóssia, médica ginecologista e obstetra - e depois mastologista, quando se curou de seu primeiro câncer, o de mama - viveu muito bem por 57 anos. Até o dia 20 de janeiro de 2016, uma dia depois de aniversariar. Do que diz sua história, contada pelos que conviveram com ela, não quis nunca que sua vida fosse como a doença queria.
Em vida, dirigia quando precisava obrigatoriamente estar acamada. Recusava muletas quando o segundo câncer, a metástase óssea, lhe impedia movimentos simples das pernas - alcançava do quadril à região craniana. Ilná se envolvia em projetos quando os médicos já haviam lhe dado apenas meses de sobrevida. Viajava com lesões cancerosas aparentes, de touca cobrindo a cabeça. Chegou a receber um veredito de oito meses, mas durou dez anos mais. Um dia, em casa, quando todos pensaram que ela descansava no quarto, havia ido para a aula de inglês. Não era só uma reação física, mas principalmente mental. “Ela não se abatia. E olhe que o câncer dela era muito violento”, conta Carla da Escóssia, irmã de toda hora, na saúde e na doença.

“A força da mamãe é uma coisa extraordinária”, diz Natália, filha de Ilná, com o verbo conjugado no tempo presente. “Mesmo com a doença, a não-saúde, a ideia é você tentar ter uma vida que lhe dê vontade, felicidade, que lhe dê objetivos”. Quase todas as palavras da frase de Natália são desconectadas de quem se acomete de um câncer. Era o que Ilná praticava.

A outra filha, Virgínia, descreve o surpreender de sua mãe: “Nem pensei que ela fosse morrer de câncer”. Tamanha era a vida tocada adiante por Ilná. “O grupo Amar motivava muito ela”, diz, referindo-se à Associação Motivação, Apoio e Renovação, criada pela médica em 2002. O projeto surgiu poucos anos depois que ela se curou do câncer de mama. Queria que todas se interessassem em partilhar experiências, principalmente as alegres. Com arte terapia, agradecimentos em oração, encontros, alongamentos.

“Ela foi uma batalhadora, heroína. Porque além de ter passado pela doença, estudou (especializou-se em mastologia) para ajudar outras mulheres”, lembra dona Aglais Rodrigues, atual presidente do grupo Amar. “Ajudava a si e aos outros. Dizia sempre que amava a causa”. Ilná declarava que Aglais, sobrevivente de três cânceres, é que a inspirava.

Ilná tratou do câncer de mama logo que o descobriu, em 1998. Tinha 39 anos. Natália e Virgínia, as filhas, ainda adolescentes, foram poupadas inicialmente de saber detalhes. Depois entenderam. O tratamento principal foi em São Paulo. No ano seguinte, já mastectomizada, sessões de quimio e radioterapia intensas e severas, cuidou-se e voltou à vida plena. Mas ali se convenceu de seu novo caminho na Medicina. Ensinou, aprendeu, cuidou. O câncer voltou e ela se manteve no propósito. Cuidar de si e de outras enquanto possível.

A doença avançava em seu corpo e ela aumentava milhas de viagem. Já o câncer ósseo presente e ela esteve em Cuba, na Polônia, viajou a Florianópolis, encontros fora e dentro do Brasil. A família quis que ela se poupasse. “Agora que tenho que fazer mais”, respondia. “Os médicos que viam a radiografia e os exames delas acreditavam que era uma paciente prostrada. O prontuário não batia com a paciente. Uma vez, um médico achou que tivesse errado de quarto quando viu”, conta Carla.

Ilná foi subvertendo sempre. Não foi possível contar a história de Ilná sofrendo para viver porque não conseguimos apurar esta informação. Ela inspirou, ajudou, continuou. Ilná Escóssia preferiu se deixar viver do que apenas se abater diante de dois cânceres. A vida lhe foi mais importante e feliz. Literalmente vivida. Ilná parece ainda muito presente. Em vez de ser protegida, ela que protegeu.
Fonte: Jornal O Povo

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