Pelo menos 84 turmas reúnem alunos de séries diferentes em Caucaia
Na escola Cristiano Nunes de Melo, as turmas são unificadas na educação infantil e no ensino fundamental0)
As primas Lívia e Évila foram criadas praticamente juntas, na localidade de Feijão, zona rural de Caucaia. Elas têm 13 e 14 anos, respectivamente, e cresceram estudando em turmas diferentes na escola da Região Metropolitana de Fortaleza. Neste ano, são colegas de classe pela primeira vez. Para elas, a mudança traz a vantagem de estarem juntas até em sala. Mas admitem: a formação sai prejudicada. “Em uma semana, o professor dá o conteúdo do 9° ano, que é minha série. Na outra, eu vejo coisa repetida do 8° ano”, detalha Évila.
As classes multisseriadas, abrigando simultaneamente alunos de séries diferentes, são realidade em 30 escolas municipais e anexos de Caucaia — a segunda maior cidade em população do Ceará. Do 1° ao 9° ano do ensino fundamental, são 84 turmas unificadas, conforme dados da Secretaria da Educação do Município aos quais O POVO teve acesso. O número não inclui classes da educação infantil, também unificadas nas escolas da zona rural visitadas pela reportagem.
Professores e diretores informam que esta organização das turmas acontece desde 2014 por orientação da secretaria. Os docentes afirmam que as escolas têm sido pressionadas a juntar classes para redução de gastos.
Quando passou a ensinar turmas multisseriadas este ano, o professor Rogério Ramos, de história e ensino religioso, afirma ter tido a carga horária reduzida, de 90 para 45 horas. Até o ano passado, ele dava aula em quatro classes: do 6° ao 9° ano na escola Cristiano Nunes de Melo — onde Évila e Lívia estudam. Em 2016, as quatro turmas viraram duas. “Temos alunos que mal têm o que comer, que muitas vezes chegam ao ensino médio sem conseguir interpretar um texto. Como cortar gasto em cima da educação desse jovem?”, questiona o professor.
Os motivos elencados pela secretaria, em resposta ao O POVO por e-mail, são outros. Conforme a pasta, a organização veio após o levantamento de regiões com acesso dificultado para o transporte escolar e com números reduzidos de aluno por turma. “Para que os alunos não fossem prejudicados e não perdessem aulas, essa medida foi tomada”, diz o texto. Ainda conforme a secretaria, um reordenamento está sendo estudado “para evitar que o quadro de escolas multisseriadas aumente e para sanar problemas das escolas existentes”.
“Sala multisseriada é ruim, mas é melhor do que ficar sem estudar”, opina uma das diretoras das escolas, preferindo não ser identificada. “É um atraso na qualidade da educação”, desabafa uma das professoras da rede.
Fonte: Jornal O Povo
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