Dia de confronto e tensão na Capital de Fortaleza

Plantão Ceará | 07:39:00 | 0 comentários

Manifestação milhares de pessoas foi marcada por vandalismo de uma minoria e excessos

A onda de protestos pelo País chegou a Fortaleza. Veio com força e com uma diferença: no dia do jogo da Seleção Brasileira de futebol. De acordo com a Polícia Militar, 20 mil pessoas participaram. No entanto, os organizadores da manifestação estimam que 50 mil empunharam cartazes e gritavam palavras de ordem no evento que intitularam "Copa pra quem? - mais pão, menos circo".

A multidão promoveu uma caminhada pacífica pela Avenida Alberto Craveiro, mas a calmaria acabou quando algumas pessoas tentaram furar o ponto de bloqueio erguido pelo Batalhão de Polícia de Choque (BPChoque) Foto: Kiko SIlva

Em sua maioria jovens, promoveram uma caminhada pacífica e animada pela Avenida Alberto Craveiro, de acesso ao Estádio Castelão. A calmaria acabou no ponto de bloqueio erguido pelo Batalhão de Polícia de Choque (BPChoque). Foi uma questão de tempo para os dois lados entrarem em confronto.

Passava pouco de meio-dia, quando uma minoria - diante de um grupo heterogêneo, mas indignado - lançava pedras de canteiros de obras próximos. A Polícia usou balas de borracha e muitas bombas de gás lacrimogêneo - a ponto de o estoque de munição acabar. A dificuldade de dizer quem começou é proporcional à certeza de que, "uma hora", o conflito aconteceria.

Minutos antes do rompimento do alambrado, que dividia PM e manifestantes, a equipe de reportagem flagrou três jovens encapuzados quebrando tijolos e arremessando na direção do bloqueio, atingindo os próprios manifestantes.

Torcedores

Confundidos com a multidão do protesto, dezenas de torcedores não saíram ilesos e foram atingidos pelo gás lacrimogêneo. Em plena área de conflito, erguiam os ingressos para o jogo Brasil x México. Era a forma de se identificar para os policiais e, dessa forma, poderem atravessar correndo.

"Concordo com os protestos, mas deveria ser mais organizado", afirma Gilson Alves, servidor público que veio de Recife para assistir ao jogo.

Quem não tinha para onde ir, apenas aguardava a "guerra" acabar. Era o caso dos moradores do bairro Dias Macedo. A zona de conflito deu-se em meio às comunidades às margens da BR-116. Na Travessa Neném Gonçalves, uma criança de apenas um mês de vida foi levada às pressas ao hospital, contaminada pelo gás lacrimogêneo. Apenas 15 metros distante dali, um carro da Autarquia Municipal de Trânsito (AMC) foi virado e incendiado, em frente a uma empresa de combustível.

Com a primeira repressão policial, parte dos manifestantes correu para a BR-116, na tentativa de chegar à Avenida Paulino Rocha, onde os confrontos seguiram até 18h.

Para se defender das balas de borracha, uma minoria arrancou tapumes de canteiros de obras, usando-os como escudo. Outros destes arrancaram placas de trânsito, fazendo uma barricada de fogo.

Três manifestantes foram detidos e encaminhados ao 16º Distrito Policial, sob acusação de ter atirado pedras nos policiais e insuflado moradores e demais integrantes do protesto a fazerem o mesmo.
Feridos
Foram muitos os feridos, entre eles jornalistas atingidos por bala de borracha, além de torcedores e manifestantes. Veículos de emissoras de TV foram depredados. O coronel João Batista, do Comando de Policiamento Metropolitano, também foi ferido com pedradas no braço.

O evento, que começou pacífico, por mais educação, saúde e o fim da corrupção, ficou marcado por vandalismo de uma minoria e possíveis excessos das autoridades policiais - o que é negado pela Polícia.

Antes disso, a marca foi um verdadeiro mar de mensagens, em voz e cartazes: "Sem violência"; "Não é contra a seleção, mas sim contra a corrupção"; "O poder emana do povo"; "Quero hospitais no padrão Fifa" e "Ei, fardado, você também é explorado". 

Imagens da confusão
Sustos e violência
Um carro da Autarquia Municipal de Trânsito (AMC) foi virado e incendiado por vândalos em frente a uma empresa de combustíveis. Moradores do entorno também sentiram as consequências das bombas de gás lacrimogêneo. Policiais ajudaram torcedores a chegar ao Castelão, muitos deles erguiam os ingressos para o jogo do Brasil como forma de se identificar Fotos:Melquíades Júnior/Lucas de Menezes
Comunidade dá apoio, mas sofre
A comunidade do bairro Dias Macêdo presenciou, na manhã de ontem, milhares de pessoas de várias idades protestarem por mais educação, saúde, contra a corrupção e vários outros males, que, conforme os próprios manifestantes, "não cabem em um cartaz". Por onde passava, a massa em manifesto era aplaudida pelos moradores, que também sofreram com as o tumulto e com as bombas de gás lacrimogêneo. "É disso que precisamos. Ninguém pode ficar calado. Tem gente achando ruim, mas olha que coisa mais linda. Tá tudo em paz", afirma Luzanira Alves, moradora da Travessa Neném Gonçalves, bairro Dias Macedo.

Alguns moradores deram água às pessoas atingidas pelo gás lacrimogêneo e abrigaram os manifestantes em suas casas Foto: Melquíades Júnior

E foi ela que, horas depois, começou a abrigar manifestantes quando as bombas de gás lacrimogêneo eram lançadas pela Polícia. A dona de casa Maria Aíla também. "Quando eu vejo esses meninos na rua, penso que poderia ser um dos meus filhos. Morro de preocupação, mas eu acho que é legítimo".

Com mangueiras e jatos de água de fora, as donas de casa socorriam os manifestantes atingidos pelo gás. "É a gente sofrendo aqui e só o bem bom ali (aponta para o estádio)", afirma a estudante Vitória Amaro, 16. A adolescente acompanhou os protestos da porta de casa. Ficou indignada com o vandalismo. "Mas eu sei e todo mundo sabe que isso é uma minoria que não tem nada a ver com quem está protestando", avalia.

Ainda no Dias Macedo, um casal de turistas do Rio Grande do Norte e alguns manifestantes ficaram horas em uma residência encurralados pela Polícia. Os policiais jogaram uma bomba de gás lacrimogêneo, forçando a retirada das pessoas da casa.

"Essa forma de a população apoiar é uma prova de que é o povo que está neste movimento. Se não protestar, nada vem", afirma Kalil Dorgum, 50, líder comunitário que decidiu ir para as ruas. E como ele foram muitos. A professora Lindalva Nunes contrariou o marido e levou os dois filhos, de 12 e 15 anos, para a manifestação. "Quero que meus filhos entendam que tem muita coisa errada, e se não reclamar, nada vem de bandeja. Não vem nem quando ninguém reclama, imagina se a gente fica calado".

MELQUÍADES JÚNIORREPÓRTER 
FONTE: DN

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