Americanas (AMER3) entra com pedido de recuperação judicial e informa R$ 43 bilhões em dívidas

Plantão Ceará | 17:35:00 | 0 comentários

Uma semana após a descoberta do rombo bilionário, a Americanas (AMER3) formalizou hoje (19) o pedido de recuperação judicial com cárter de urgência na 4ª Vara Empresarial Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. As dívidas da empresa somam R$ 43 bilhões em meio a mais de 16,3 mil credores.

Na petição sobre recuperação judicial da Americanas enviada ao TJ-RJ, a varejista afirma que devido à desvalorização das ações, que registraram quedas superior a 80% desde a divulgação dos R$ 20 bilhões em inconsistências contábeis, junto ao rebaixamento de seus ratings, fizeram com que seus credores financeiros ficassem "em polvorosa", drenando mais de R$ 3 bilhões do caixa.

"Menos de 6 horas depois da divulgação ao mercado do fato relevante no dia 11 de janeiro, alguns credores, sem qualquer embasamento contratual ou legal, já haviam declarado o vencimento antecipado das obrigações da companhia — alguns assenhorando-se de valores bilionários, fechando as portas para qualquer tipo de negociação amigável viável", destaca o documento sobre o pedido de recuperação judicial da Americanas. Lemann, Telles e Sicupira injetaram recursos

Diante do pedido de recuperação judicial, os acionistas de referência — Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira — informaram ao presidente do Conselho de Administração que pretendem devem injetar recursos na rede varejista.

"Dado o pedido de recuperação judicial da empresa, a administração da Americanas vem a público informar que seguirá operando normalmente dentro das novas regras da recuperação judicial, cujo um dos objetivos principais é a própria manutenção de empregos, pagamento de impostos e a boa relação com seus fornecedores e credores e investidores de forma geral", afirmou a Americanas em nota.
Conselho aprovou a recuperação em "caráter de urgência"

No documento, a empresa afirma que, a despeito dos esforços e das medidas que a administração dos últimos dias, em conjunto com seus assessores financeiros e legais, para proteger a companhia dos efeitos decorrentes da descoberta de financiamentos de compras da dimensão de R$ 20 bilhões não adequadamente refletidos nas demonstrações financeiras de 30/9/2022, o conselho de administração da Americanas aprovou o pedido em caráter de urgência, por unanimidade.

A decisão, segundo a companhia, considerou os desafios que está enfrentando na interface com credores e fornecedores da Americanas desde revelação das inconsistências contábeis; a necessidade de atendimento dos interesses de seus credores, acionistas e stakeholders; a posição de caixa que reduziu-se sobremaneira; e a necessidade de preservação da continuidade da oferta de serviços de qualidade.

No fato relevante, a Americanas afirma que o total dos créditos listados nos documentos protocolados com o pedido de RJ soma aproximadamente R$ 43 bilhões e que "o grupo de acionistas de referência da Americanas informou ao presidente do conselho de administração que pretendem manter a liquidez da companhia em patamares que permitam o bom funcionamento da operação de todas as lojas, do seu canal digital, - americanas.com - , da Ame e suas demais coligadas".

A companhia disse ainda que mantém seu esforço na busca por uma solução com os seus credores da Americanas e reafirma "a confiança que tem em sua capacidade operacional e comercial para que seja bem-sucedida na proposição e aprovação de um plano de recuperação que permita ganho de valor para a companhia e seus stakeholders".

A apresentação do pedido de RJ da Americanas foi feita nos autos da Tutela de Urgência Cautelar ajuizada em 12 de janeiro e a administração pretende tomar as providências necessárias à efetivação do pedido de recuperação em todas as jurisdições que sejam necessárias. A medida será levada à Assembleia Geral da Companhia, a ser convocada.
"Gravíssima crise de liquidez"

Na visão de Fernando Brandariz, presidente da comissão de Direito Empresarial da subseção Pinheiros da OAB-SP, o atual cenário indica que a Justiça deve aceitar o pedido de recuperação judicial da Americanas.




"É muito provável que seja deferido o processamento da recuperação judicial do grupo, com a consequente determinação de suspender todas as ações e execuções existentes contra o grupo", explica Brandariz.

No pedido de recuperação judicial à Justiça do Rio de Janeiro, a Americanas acrescenta que enfrenta uma "gravíssima crise de liquidez". Diz ainda que, sem a proteção judicial, seu caixa seria "aniquilado".
Risco de "absoluto aniquilamento de caixa"

Ainda na manhã de hoje, a Americanas confirmou a informação de que seu caixa caiu para R$ 800 milhões — antes da inconsistência contábil, o montante era de R$ 8,6 bilhões, reportados no terceiro trimestre de 2022.

De acordo com a varejista, do valor atual, boa parte do recurso está "injustificadamente indisponível para a movimentação da companhia desde ontem". O fato é atribuído à decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que permitiu que o BTG Pactual bloqueasse R$ 1,2 bilhão da Americanas.

"O risco, então, caso não seja deferido o imediato processamento desta recuperação judicial, é de um absoluto aniquilamento do fluxo de caixa do Grupo Americanas, o que impedirá o cumprimento de obrigações diárias indispensáveis ao exercício da atividade empresarial, tal como o pagamento de fornecedores e funcionários", afirma a petição de RJ.
Mais de 16 mil credores

Na petição de recuperação judicial da Americanas, destaca-se que o valor total da dívida é de R$ 43 bilhões e que são aproximadamente 16,3 mil credores. No requerimento, a varejista solicita 48h para apresentar lista deles.

"Para apresentação da lista de credores completa, a discriminação do passivo e eventuais documentos faltantes, para que reflita da forma mais fidedigna possível a realidade do endividamento do grupo."
Recuperação judicial: necessidade de preservação da continuidade de oferta e serviços

Em fato relevante, a AMER3 destaca que os membros do conselho de administração deliberaram pela decisão considerando os seguintes pontos:"os desafios da Companhia na interface com credores e fornecedores desde a ocorrência de tais fatos;
as necessidade de atendimento, de forma adequada e organizada, dos interesses de seus credores, acionistas e stakeholders;
que, na presente data, a posição de caixa disponível à Companhia reduziu-se sobremaneira; e, ainda,
a necessidade de preservação da continuidade da oferta de serviços de qualidade a seus clientes, dentro dos compromissos assumidos pela Companhia e da manutenção da continuidade de seu negócio e sua função social."


Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos e pós-graduado em análise financeira, comenta: "Com a recuperação judicial, Americanas deixa de fazer parte dos índices da B3. Mas é importante ter cuidado. Deixar de fazer parte do índice não significa que deixa de ser listada em bolsa. Negociação continua normal, continua tendo volume. Quem quiser comprar ou vender consegue tranquilamente durante a RJ. Oi (OIBR3), por exemplo, ficou um ou dois anos em RJ e era negociada normalmente."

Ele observa: "Historicamente quem entra em RJ dificilmente sai bem. Muitas empresas acabam falindo. Temos fundos que precisam cumprir regras. Pode ter fundo, principalmente no exterior, em que gestor só pode aplicar em empresas que tenham rating. Então, Americanas perdendo rating, esse fundo também teria que se desfazer dos papéis e também não comprar ações. Da mesma forma que há regra para rating, também há regras em fundos. Há fundos que, em regra, só aplicam em ações que fazem parte do índice Ibovespa. Então, começamos a ter diversas restrições de fundos, de gestão. Vários fundos que replicam índices vão precisar vender posições. Talvez seja vetado acoplar ações da Americanas."

Ricardo conclui: "Quando papel deixa de fazer parte do índice, temos vários fundos no mundo inteiro que replicam o índice Ibovespa. Então, se esse fundo tinha Americanas, quando deixa de fazer parte, esse fundo tem que vender. Mas com vários fundos vendendo, temos uma pressão vendedora que pode fazer papel cair. Logo, a consequência imediata seria a de liquidez. Valor negociado por dia tende a cair bastante. Passando essa fase de crise em que muitos especuladores compram e vendem, vamos ter a empresa com volume bem menor por dia. Quando a ação vale pouco, qualquer centavo faz diferença. Isso não é saudável para o mercado."
Rombo na Americanas

Na semana passada, a Americanas revelou um rombo contábil de R$ 20 bilhões, o que culminou na saída de Sergio Rial do comando da varejista após uma estadia como CEO de apenas nove dias.

O caso foi parar na Justiça, e a empresa recebeu uma proteção judicial que, por 30 dias, impede o vencimento antecipado das dívidas do negócio.

"A Americanas passa a ter a Rothschild & Co no Brasil e internacionalmente representando a empresa na construção de um diálogo franco e aberto, preservando o peso que a empresa tem, tanto com sua função social, como na participação da economia do país", destacou a empresa em nota enviada ao Suno Notícias.

De acordo com o Status Invest, as ações da Americanas caíram 78,96% neste mês. No pregão desta quinta (19), as ações da varejista caem 24%, depois de entrar e sair de leilão. Os papéis estão cotados a R$ 1,30. Na quarta (11), antes da divulgação do comunicado em que a empresa comunicava o rombo bilionário. as ações estavam cotadas a R$ 12.

Com informações do Estadão Conteúdo

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