Farol do Mucuripe deve virar centro de assistência

Plantão Ceará | 08:33:00 | 0 comentários

A ideia é transformar o local em uma espécie de Centro de Referência em Assistência Social (Cras) ampliado da Capital
A relação entre o poder público e a atenção dada ao antigo Farol do Mucuripe, bem tombado como patrimônio histórico desde 1982, é contraditória. Embora o local esteja estampado nos brasões oficiais de Fortaleza e na bandeira do município como símbolo da Capital, o mesmo orgulho não se reflete no interesse em cuidar do espaço. O lugar, hoje, não está sob posse nem responsabilidade de nenhum órgão ou instituição. O resultado é o completo estado de esquecimento no qual se encontra.

O lugar, hoje, não está sob posse nem responsabilidade de nenhum órgão ou instituição, o que o deixou esquecido do dia a dia FOTO: NATINHO RODRIGUES

Após anos de denúncias e relatos sobre o abandono, contudo, uma fraca luz no fim do túnel pode indicar mudanças na situação do espaço. Segundo a Superintendência do Patrimônio da União no Ceará (SPU-CE), tida como uma das responsáveis pelo local, há cerca de duas semanas, a Secretaria Municipal de Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate à Fome (Setra) solicitou autorização para, enfim, dar uma nova utilidade ao Farol.

O projeto do órgão é implantar, no lugar, uma espécie de Centro de Referência em Assistência Social (Cras) ampliado, com capacidade para oferecer, além dos atendimentos disponibilizados nas outras unidades, atividades destinadas à qualificação profissional e trabalhos na área de segurança alimentar. Segundo a assessoria de comunicação da secretaria, no entanto, a proposta ainda não foi oficializada, pois está em fase de análise pela SPU-CE.

Apesar de estar em fase embrionária, o plano pode significar o término de uma longa era de descaso e degradação. Nos últimos anos, o Farol perdeu portas, janelas, piso e até parte da escada que levava ao alto do farol, já extremamente enferrujada, não existe mais, não se sabe se pela ação do tempo ou do homem. A vista para o mar, seu principal atrativo, tornou-se inacessível, assim como todo o local. Do lado de fora, a situação não é melhor. Cobertas por rabiscos e pichações, as paredes descascadas se sustentam por pouco, apresentando rachaduras em vários pontos.

Morador da região do Mucuripe há mais de três décadas, o professor de surfe João Carlos Sobrinho, mais conhecido como "Fera", diz que a deterioração é fruto da negligência de muitas gestões ao longo dos anos. Segundo ele, quando passou a viver na área, o local já estava deteriorado, mas viveu uma breve fase áurea, durante o período de funcionamento do Museu do Jangadeiro, inaugurado em 1982 e fechado em 2007.

Responsabilidades

Ao comentar se o ponto ainda é frequentado pela população ou turistas, ele usa o tom de brincadeira para falar sério: "Você já viu alguém querer entrar em uma casa mal-assombrada?", indaga o professor. "O que existe ali é um grande descaso com o patrimônio histórico e cultural da cidade", completa.

Conforme o guarda-vidas Rommel Girão, os únicos visitantes são usuários de drogas e assaltantes, que utilizam o farol como esconderijo. O lugar também acabou se transformando em banheiro público, gerando forte mau cheiro e sujeira por todos os lados, inclusive com garrafas de bebidas alcoólicas. "A gente só não tem medo de ir até lá porque é da comunidade, mas para quem vem de fora, é perigoso".

Ainda que o requerimento da Setra demonstre existir intenções em recuperar e conferir usos ao local, o Farol do Mucuripe, atualmente, não se encontra sob os cuidados de ninguém. O titular da SPU-CE, Jorge Luiz Oliveira, revela que, desde o fechamento do museu, por diversas vezes foram enviados ofícios à Prefeitura e ao Estado perguntando se havia interesse em administrar o espaço, mas as respostas sempre foram negativas.

Oliveira afirma que a manutenção do lugar também não é atribuição da SPU-CE, sendo esta responsável apenas pela entrega do imóvel ao órgão que se dispusesse a gerenciá-lo. Como nenhum demonstrou tal pretensão, o espaço acabou entregue às moscas.

A Secretaria de Turismo de Fortaleza (Setfor) também mantém, há alguns anos, intenções em reformar o entorno do Farol por meio do Aldeia da Praia, que consiste na revitalização dos bairros Mucuripe, Titanzinho e Serviluz. A assessoria de comunicação do órgão explicou que o plano é construir uma praça com museu em frente ao local. Obras e outras intervenções, contudo, não têm previsões, uma vez que o projeto não entrou em processo de licitação e está em fase de captação de recursos.

FIQUE POR DENTRO
Equipamento foi o "olho do mar" cearense
Construído entre 1840 e 1846, o Farol do Mucuripe já foi ponto de referência para todas as embarcações que aportavam no Ceará, sendo, por isso, conhecido como os "olhos do mar". Era possível ver sua luz, que piscava a cada minuto, a 24km.

Após um incêndio pouco tempo depois do término de suas obras, o local recebeu novas intervenções, sendo reinaugurado em 1871. Na década de 1950, foi desativado por falta de uso e em 1983 tombado como patrimônio histórico pela Secult.

VANESSA MADEIRAREPÓRTER DO DN

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