Chorão 'se isolou' nos últimos meses, diz amigo skatista

Plantão Ceará | 22:07:00 | 0 comentários

O skatista e empresário Glauco Veloso, 43 anos, diz acreditar ter sido ele uma das últimas pessoas com quem Chorão conversou antes de morrer. Veloso conta que estava em casa na segunda-feira (4) quando recebeu um telefonema do cantor do Charlie Brown Jr. Dois dias mais tarde, o corpo do músico foi encontrado num apartamento em São Paulo.
“Ele me ligou para se despedir”, lembra-se o empresário em entrevista ao G1 , por telefone. Veloso diz que, mesmo assim, chegou a agendar um encontro com Chorão para a quarta. De acordo com ele, nos últimos dois anos o cantor havia intensificado o uso de cocaína. “Ele estava muito depressivo, cheirando pra caramba, tomava muito Lexotan também.”
O empresário cita que Chorão “falava que queria morrer”. “Estava querendo tanto partir, que se isolou”, prossegue, observando que, de dois meses para cá, não vinha conseguindo localizar o amigo. A amizade durava 25 anos, recorda Veloso. “A gente andava de skate, comecei com 11 anos.” Glauco é de São Bernardo do Campo (SP), daí o apelido pelo qual era chamado por Chorão – “Campon”. Durante a conversa, o empresário afirmou estar abatido e pareceu chorar em alguns instantes. Leia, a seguir, os principais trechos.
G1 – Quando foi a última vez que você falou com o Chorão?
Glauco Veloso – Na segunda-feira [4 de março] à tarde, umas 15h. Eu estava aqui em casa, coloquei água no fogo para fazer café e toca o telefone. Era um número de celular [desconhecido]. Eu ouvi: “Campom!”. E perguntei: “Maluco, onde você está?”. Ele respondeu: “Estou bem, está tudo bem. Te liguei para falar que esse é o meu número novo, que eu amo você”. Perguntou como estava a minha mãe, falou da comida dela – ele comia lá em casa. Ele me ligou para se despedir... Parece que uma das últimas pessoas com quem falou no telefone fui eu. A mina dele depois me falou: “Glaucão, estou com o telefone dele na mão aqui e acho que uma das últimas pessoas com quem ele falou foi você”.
G1 – E quando você soube que ele tinha morrido?
Glauco Veloso – Na quarta [dia da morte], às seis horas da manhã. Eu comecei a gritar no quarto. Foi muito deprê. Estou abatidão ainda, não estou entendendo muito bem o que aconteceu.
G1 – No dia em que ele ligou, combinaram de se encontrar depois?
Glauco Veloso – Ele falou: “Vamo se encontrar na quarta! Vai lá em casa”. Estava falando do apartamento de Santos. A gente iria sair para almoçar, passar o dia junto, dar um rolê de skate, uma brincadinha só, de leve. E depois, à noite, ele iria fazer uma reunião com a banda, sei lá. Aí, às 6h da manhã tocou o telefone [com a notícia da morte]... Não entendi nada. Eu estava indo ver o cara, tinha marcado às 14h! À noite, eu estava no velório, pensando: “Era para agora estar dando um rolê com o cara”. E ele num caixão...
G1 – Ele fez outras despedidas?
Glauco Veloso – O Badauí [vocalista da banda CPM 22] me ligou esses dias e falou: “Campom, vi o Chorão na balada, ele veio e trocou ideia comigo, a gente se acertou”. Eu estava a par dessa treta, não era uma briga que precisava ter rolado, porque o Badauí gostava pra caramba dele. O Chorão se encontrou com outro maluco no aeroporto, se ajeitou. Ele veio se ajeitando com várias pessoas com quem teve treta.
G1 – Como ele estava recentemente?
Glauco Veloso – De dois anos para cá, foi muito punk. Senti que ele estava muito estranho, não era mais aquele Chorão “sangue no zóio” para fazer show. Ele cheirava pra caramba, ficava acordado até [o dia seguinte] às seis da manhã. Aí, tinha que pegar um avião, para tocar não sei onde, pegar um ônibus e andar mais três, quatro horas. Ele não estava mais com essa disposição – e isso [cocaína] não parava de rolar. Ele estava já na maior "deprê", umas coisas estranhas, não estava mais andando de skate. Ele estava muito depressivo, cheirando pra caramba, tomava muito Lexotan também.
G1 – Ele chegou a comentar se isso atrapalhava, se estava cansado?
Glauco Veloso – Ele falava: “Glauco, meu, não aguento mais, vou jogar a toalha”. E eu pedia calma e perguntava: “Como assim?”. Ele dizia: “Quero parar com tudo, mas não posso parar”. Às vezes, ele ficava com medo de me falar o que queria, era estranho. Ultimamente, eu até falava que ele estava fugindo de mim.
G1 – Faz quanto tempo que você começou a tentar procurá-lo sem encontrar?
Glauco Veloso – Uns dois meses. E eu sempre achei, ou ele ou a mulher dele – tinha o telefone e tudo. Aí, eu ligava para ela, que falava: “Ele não está, ele sumiu. Foi embora, a gente se separou. Ele quis ir embora”. Eu falei: “Não, mas essa separação já rolou mais de dez vezes, ele sempre volta, vocês se amam!”. E ela respondia: “Mas agora ele foi, daquele jeito louco dele”. Ninguém falava a verdade para ele, ficava todo mundo “alisando”. Eu e a mulher dele confrontávamos. O verdadeiro amigo fala o que você precisa escutar, não o que você quer escutar.
G1 – Depois que 'sumiu', o que você fez?
Glauco Veloso – Comecei a ligar para o segurança, para o motorista. Eles falavam: “Ele está mal”. E eu falava: “Preciso falar com o cara, estou sentindo uma 'parada' ruim, preciso falar com o cara”.

G1 – Vocês se conheciam desde quando?
Glauco Veloso – Vinte e cinco anos. Eu sou de São Paulo, mas ficava largado direto lá em Santos. A gente andava de skate juntos, comecei com 11 anos de idade. Sou um ano mais velho, então dava uns tapas na cabeça dele e falava: “Me respeita, que eu sou mais velho!”. A gente era muito parecido. Muita gente falava que eu pareço mais com ele do que os irmãos dele.
G1 – Você ia para Santos andar de skate com ele?
Glauco Veloso – Sim. E a gente não tinha dinheiro para nada. Um dia ele falou para mim: "Tem uma mina que está dando rolê na praia e é 'mó' gata". Vou sentar lá no banco para ver ela correr". Era a mulher dele hoje, a Graziela. Do nada, começaram a namorar. Ela começou a meio sustentar a gente. Ela tinha um pouquinho de grana, e a gente não tinha nada. Ela aparecia com uns tíquetes da mãe dela e ela levava a gente, tudo magrelo e zoado, para a pizzaria (risos) . O Chorão sempre falava: “Um dia vocês vão me ver tocando no Faustão, na Xuxa”. Falava isso em todo lugar que entrava. Nessa época teve a história do nome do Charlie Brown Jr. Você conhece?
G1 – O que aconteceu?
Glauco Veloso – Na época, ele falou que tinha acabado com a banda de thrash metal , essas paradas. Viu que não dava dinheiro e falou: “Preciso fazer um outro tipo de música, porque o que eu estou fazendo não dá dinheiro”. Aí, montou uma banda [nova], que não tinha nome. Um dia, ele estava dirigindo em Santos e bateu numa barraca de coco, que chamava Charlie Brown. Ele olhou pros caras e falou: “Vixi, achei o nome da banda!” (risos) .
G1 – E tinha problema com droga?
Glauco Veloso – O bagulho da droga é meio louco. Enquanto você está usando, está beleza. Mas quando ela começa a te usar... Teve uma época, uns 20 anos atrás, em que ele morou num flat numa travessa da Oscar Freire e vi que ele estava cheirando. Eu falei: “Por que ficar cheirando esse bagulho?!”. Ele pegou e jogou tudo na privada e falou: “Não leva a mal, não”. Eu perdi 13 amigos, tudo de overdose. O Alexandre é muito sentimental, o cara é poeta, então guardava muita mágoa, muita tristeza. E muita gente andou pisando na bola com ele. Teve uma época em que ele falava que não aguentava mais viajar, que ia jogar a toalha e tal.
G1 – Ele chegou a parar de usar droga?
Glauco Veloso – Onze anos atrás eu me converti e dei de presente para ele uma Bíblia. Ele começou a ler e curtir. Pode ver que as últimas músicas dele já falavam de coisas espirituais, já não tinham tanto palavrão. Mas, ao mesmo tempo, estava cheirando pra caramba.

G1 – Em que época ele começou a usar com mais intensidade?
Glauco Veloso – Faz uns dez anos, mais ou menos. Ele usava muito, depois parava, usava muito, parava... Só que, de dois anos pra cá, era muito estranho – ele não parava. Eu ia no apartamento dele, passava a mão em algum lugar e achava droga. Ele ficava loucão e largava droga em tudo que era lugar. De dois anos pra cá, eu ficava muito com ele, orava com ele. E ele falava para mim: “Estou mal, não aguento mais, quero ver meu pai. Não aguento mais a banda. Quero recuperar o dinheiro que perdi, comprar um posto de gasolina e morar em Floripa”. Ao mesmo tempo, ele falava que queria morrer. Ele se abria muito comigo. Vou te falar, eu não consigo parar de chorar. A gente tinha uma ligação muito forte, ele me escutava muito. Aprendi muito com ele, e ele comigo.
G1 – E, no final, parece que ele estava sozinho.
Glauco Veloso – Ultimamente, o que ele fez? Estava querendo tanto partir, que se isolou. Ele não estava para ninguém: nem para mim, nem para a Grazi, nem para a mãe. É o seguinte: ele queria ir embora mesmo. E era um cara muito bom, que via um carroceiro de rua, parava e dava R$ 200. Ajudava todo mundo. O que ele ajudou de gente... Era maloqueiro, mas ao mesmo tempo educado, que sabia se comportar nas situações. E era um poeta maravilhoso, um cara prestativo. Fonte: G1

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