Quanto tempo de amadurecimento político é necessário para se tornar prefeito de uma das maiores cidades do País? Para Roberto Claudio Rodrigues Bezerra, apenas sete anos. Com uma carreira política meteórica, conquistou um mandato de deputado estadual em 2006. Tornou-se um dos líderes do governo Cid Gomes na Assembleia Legislativa do Ceará. Ganhou mais uma eleição, em 2010, para deputado estadual. Mandato de mais quatro anos que nem vai chegar a completar. Virou presidente da AL. E, agora, eleito, chega ao ápice da vida pública. Por enquanto, porque com um retrospecto desses, não dá para dizer onde o pequeno “Beto”, como é chamado carinhosamente pela família e amigos mais íntimos, poderá parar.

Roberto vota em seção eleitoral neste domingo (28) FOTO: Alex Costa

Segundo de quatro filhos do casal Maria das Graças Rodrigues Bezerra e Roberto Claudio Frota Bezerra, Beto surpreendeu os pais pela primeira vez ainda criança quando encheu um saco de brinquedos e doou para dois filhos do engraxate que tinha no chefe da família Bezerra um de seus melhores cientes. O detalhe engraçado desse episódio é que a maior parte dos brinquedos não era dele. Pertencia ao irmão mais velho. A justificativa é que eram os brinquedos mais conservados da casa, já que os dele próprio estavam mais desgastados e até quebrados.

União

A doação não gerou briga em casa. Os irmãos eram unidos. Ajudavam-se como até hoje é. Todos se envolveram completamente nas campanhas de Beto. A primeira, em 2006, foi à base de muito boca a boca entre os amigos. E amigo é o que nunca faltou na vida do novo prefeito da Capital cearense. Só discutia com os familiares quando o assunto era futebol. Único torcedor tricolor em um seio alvinegro, contrariava o pai e os irmãos que torcem Ceará. Mas até isso soube contornar, quando o Fortaleza não está jogando contra o maior rival, torce pelo adversário porque é cearense e político, é claro.

O prefeito eleito ainda nos tempos de estudante FOTO: Divulgação

O futebol era seu esporte predileto. Ajudava-o a conhecer pessoas novas.  A facilidade em fazer amizades chamava a atenção naquele garotinho tão desinibido e craque de bola e nas notas. O pai, professor que chegou a ser reitor da UFC, e a mãe, servidora pública daquela universidade, decidiram fazer uma pequena quadra no quintal de casa, que vivia cheia de boleiros.  Afinal, três filhos homens precisavam aliar os estudos a uma atividade esportiva. E o futebol, como esporte coletivo, antes mesmo de ser um esporte é um meio de fazer amigos.

Talento no esporte

Beto aproveitou bem a intenção de seus pais. Multiplicou as amizades e foi escolhido o melhor jogador na escola entre todas as categorias em um dos campeonatos internos. Pena que em virtude de uma osseocondrite (inflamação nas articulações) deixou de praticar o esporte preferido na infância. Voltou as atenções exclusivamente para os livros, sem antes ter tentado jogar basquete. Até tinha habilidade, mas a altura que passa longe de jogador profissional o atrapalhou nesse propósito. Focou-se nos estudos de vez. Nunca ambicionou ser o melhor da turma, mas queria estar entre os melhores. A medicina foi escolhida ainda em tenra idade. 

Medicina

Mal sabia que a profissão de médico o levaria, anos depois, à política. Trabalhou na emergência do hospital Antônio Prudente. Com o seu jeito de fazer amigos, tornou-se facilmente uma das figuras mais queridas daquele setor. Mas foi exercendo a medicina em uma das cidades que compõem a Região Metropolitana de Fortaleza que percebeu que só a profissão de médico era insuficiente para atingir o seu propósito. Observou que muitos problemas na área de saúde poderiam ser resolvidos com políticas voltadas para o setor. E pior, viu que muitos pacientes não tinham a assistência necessária porque faltava administração pública. Decidiu estudar mais ainda o assunto. Foi aos Estados Unidos. Lá, era o brasileiro que dava apoio a outros estudantes do Brasil. Dessa forma, continuou se aprimorando nos estudos e fazendo amizades. Duas coisas que mais sabia e gostava de fazer.

Carol, a esposa

De família católica, conheceu a futura esposa Carol em um encontro de  oração entre jovens. A fé e o apoio da mulher ajudaram a vencer um período difícil onde a saudade da terra natal quase prejudicou o seu sonho de concluir o pós-doutorado.

Carol, esposa de Roberto, em campanha FOTO: Divulgação

Teimoso, insistiu. Perseverou e terminou o PhD em Saúde Pública. Tinha tudo para trilhar os caminhos do pai. Ser  um excelente professor. Porém, recebeu um conselho de seu mentor americano Andy Nichols, que se preparava para ser candidato ao governo do Arizona, na época. “Se você quer reverter tudo o que aprendeu em benefício público precisa ser político em seu País”. A dica despertou em Roberto o homem público que havia dentro dele e que corria no seu sangue. O avô materno, Gerardo Rodrigues de Albuquerque, já havia sido vereador em Sobral e deputado estadual. Mas disso o neto só ficou sabendo por fotografias e de ouvir falar. O avô largou cedo a carreira de homem público.

Desafio

Com apoio do pai, que condicionou entrar para a política após concluir o Phd, e o conselho do saudoso guru, que morreu antes mesmo de ver o Beto virar Roberto Claudio; o fortalezense deu início a uma das trajetórias políticas mais ascendentes da história no Ceará. É hora de por em prática tudo o que aprendeu e começar mais uma etapa na vida. Se for bem como prefeito, vai ter a oportunidade de ver que fez a escolha certa em servir ao bem público. Se for mal, saberá que não é tão simples cumprir essa missão. Mas, de uma coisa  terá certeza quando assumir o mais importante cargo de uma cidade com 2,5 milhões de pessoas: aquele Beto que se cobrava bastante nos estudos terá uma cobrança infinitamente maior a partir de agora quando se tornou Roberto Claudio, sem acento no a mesmo, prefeito de Fortaleza.

FONTE: DN