Usuários pagantes de ônibus têm redução de 1,3 mi por mês

Plantão Ceará | 07:22:00 | 0 comentários

Crescimento do transporte individual foi uma das causas; passageiros reclamam de falta de qualidade
Um dos focos dos protestos que se multiplicam Brasil afora, o transporte público está em xeque. Que o serviço é ruim e a tarifa é cara todos sabem. De um lado, usuários exigem melhorias e passe livre. Do outro, gestores e empresários do setor rebatem, afirmando que, ao priorizar o veículo individual (carro e moto) em detrimento do coletivo e não motorizado, o País paga um alto custo pelo caos no trânsito.

Enfrentar filas e ônibus lotados é desafio diário para a população Foto: Kid Júnior

E mais, apontam os donos de empresas de ônibus, como não existe possibilidade de tarifa zero, ao isentar da passagem parcelas da população, como idosos, sobra para a massa trabalhadora em geral pagar a conta. "Não tem almoço grátis. Se numa mesa comem dez pessoas, ao eximir cinco do pagamento, as outras cinco dividem o encargo total", justificam os empresários.

Perdas
De acordo com dados do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus), nos últimos 18 anos, houve uma acentuada redução da demanda pagante.

Em 1995, informa o sindicato, quando o sistema integrado (terminais) já estava implantado, a entidade registrava 26 milhões de pagantes por mês. No ano passado, o total foi de 24,7 milhões/mês - perda de 1,3 milhão de usuários por mês.

Vários fatores concorreram para a redução da demanda pagante de passageiros, avalia a Associação Nacional de Transporte Público (ANTP). Entre eles, o crescimento do transporte individual, aumento do número de clandestinos, empobrecimento da população, falta de investimentos públicos permanentes no setor e a falta de flexibilidade de gestores e operadores em qualificar e tornar mais eficiente os equipamentos e os serviços.

O superintendente técnico do Sindiônibus, Francisco Pessoa de Araújo, afirma que não foi por falta de investimentos. "Em 95, tínhamos a oferta de 1,3 mil ônibus, hoje temos 1,8 mil, sendo que o número de carros particulares e motos cresceu vertiginosamente", diz. Segundo ele, se antes um ônibus fazia determinado percurso em uma hora, hoje, não consegue fazer em menos de duas e aí haja espera e lotação nas paradas e terminais. "Você sabia que, em vez de colocar mais 130 ônibus na Cidade, é melhor aumentar em um Km por hora a velocidade média dos coletivos no horário de pico?", questiona Pessoa.

Porém, as queixas são muitas e recorrentes. Quem depende do ônibus reclama. "Enfrento uma via-crúcis diária e pagando caro. Se pudesse, comprava uma moto", aponta o comerciário José Tales Filho.

O diretor técnico da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), André Dantas, admite que a oferta de coletivos com mais qualidade atrairia novos usuários.

Em sua análise, investimentos maiores exigem subsídios - recursos financeiros diretos - dos entes públicos. O problema do Brasil, argumenta ele, é que esse investimento é sempre feito com base nos recursos coletados da tarifa, enquanto, no mundo todo, os subsídios para o serviços essenciais são de 60% a 70% bancados pelo governo. "No País, quem paga é o usuário, não é a sociedade como um todo", afirma. Para especialistas, como o professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), José Borzacchiello da Silva, a população tem toda razão em bradar por melhores serviços, porém, alerta, não será fácil corrigir as distorções.

"Chegamos a uma situação calamitosa. Urge rapidez no processo decisório e sabedoria e nas escolha dos modais e dos modos operacionais. O lucro tem vigorado. Transporte público não é negócio. Tem e deve ser tratado como prioridade, como direito do cidadão de se deslocar", frisa.

A Empresa de Transportes Urbanos de Fortaleza (Etufor) promete melhorias na mobilidade com a implantação de mais corredores preferenciais. Para logo, anuncia dois novos do Centro ao terminal da Lagoa, na Av. Carapinima e José Bastos e em toda a extensão da Av. Perimetral.

Para a empresa, o serviço tem ainda muito o que melhorar. Atualmente, o sistema registra 600 mil usuários por dia. "Temos a tarifa social aos domingos e feriados, a hora social, que é das 9h às 10h e das 15h às 16h, com o preço de R$ 1,80 (inteira) e R$0,90 (meia) e o bilhete único, que facilita o ir e vir da população", destaca.

LÊDA GONÇALVES
REPÓRTER


ENQUETE

Como avalia o transporte público?


"Depender do ônibus ou topique é muito ruim pelos atrasos, lotação e sufoco em cada viagem. E isso piora para quem depende o corujão, aí, além da demora excessiva, ainda tem o problema da insegurança. É demais"

Cristiane de Oliveira
Garçonete


"A qualidade é abaixo do preço que é cobrado. O transporte público é desconfortável, inseguro, motoristas estressados, que não param nas paradas determinadas. Além disso, quando podem, eles correm além da conta"

André Vieira
Atendente


"Todo dia é a mesma coisa: tenho que sair de casa duas horas antes de pegar no trabalho devido aos problemas que enfrento com o ônibus. A demora de um para outro, quando chega no terminal, ninguém respeita a fila.

Gleiciane Rodrigues Maciel
Promotora de vendas

"Avalio como de péssima qualidade. Pagamos um preço muito alto pelo serviço ruim. Pouca oferta para muita demanda, demora, falta de respeito nos terminais, insegurança com os assaltos dentro dos veículos e por aí vai"

Edvaldo Araújo
Auxiliar de escritório

"Toda vez que tenho que ir para algum lugar mais longe de minha casa e tenho que pegar ônibus, fico apreensiva. Os motoristas não param nas paradas para os aposentados e a gente fica muito tempo esperando e se estressando"

Bernarda da Silva Alves
Aposentada


"Há muita falta de respeito em todo lugar para com o idoso e no transporte público não é diferente e, em muitos casos, pior. Deveria ter nos terminais uma fila específica para o idoso para que ele possa entrar no ônibus"

Maria da Glória Silva
Aposentada

"Tenho que pegar quatro ônibus por dia e sofro como todos que dependem do transporte público. O bilhete único melhorou só no sentido de poder pegar qualquer linha em duas horas, mas isso ainda é pouco"

Alexandre Bezerra
Promotor de vendas

"A qualidade é péssima. Apesar de algumas melhorias, ainda está muito aquém do serviço de qualidade. O desconforto, a lotação, a insegurança, a demora, só para citar alguns problemas, estressam o usuário todo dia"

Bruna Alencar
Auditora


"Tudo é muito complicado. Os assaltos dentro dos ônibus são constantes e isso só veio piorar a situação de quem, como eu, depende do transporte público. É preciso que a combater esse tipo de ação dos bandidos"

Bruna Rodrigues
Auxiliar de escritório


"Considero o transporte público em Fortaleza muito ruim. Só sabe o que digo é quem precisa pegar ônibus ou topique todo santo dia. A cada ano, tenho que sair mais cedo de casa para poder chegar no trabalho no horário"

Tadeu de Lima
Moldador


"Eu pego pouco ônibus, mas meus filhos saem muito cedinho para o trabalho e faculdade e só chegam depois das 22h em casa. Com essa insegurança, fico com o coração na boca, rezando até todos estarem em casa"

Maria do Socorro da Silva
Aposentada


"É coisa de louco. Penso que, para melhorar, ainda temos um longo caminho pela frente. Não falo só por mim, vejo as enormes filas nos terminais, gente caindo pelas portas dos ônibus, pois a oferta é pequena"

Julieta Dantas de Sousa
Dona de casa
 

FONTE:DN

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