Bombeiros de Santa Maria passam de heróis a suspeitos
Rádios gaúchas replicavam as declarações oficiais de que a corporação agira rapidamente na retirada de jovens feridos, na contenção das chamas (depois, veio-se a saber que o fogo em si foi pequeno) e, principalmente, no entrosamento com as demais forças --polícia, Samu, Força Aérea e hospitais.
Mas tudo começou a mudar quando, ainda em meio à contagem dos mortos, a polícia declarou que a inspeção dos bombeiros na boate estava vencida havia meio ano.
Surgiam, ali, as primeiras dúvidas sobre a corporação, além de uma série de contradições entre diferentes vozes dos próprios bombeiros.
Seu comandante-geral se adiantou e disse que não havia nada de errado no local. De acordo com essa primeira versão, a casa noturna Kiss havia sido vistoriada logo após o alvará ter expirado, em agosto do ano passado.
"Notificamos os donos, fizemos vistoria e verificamos que os itens mínimos de segurança estavam em dia", disse à Folha o coronel Guido Pedroso de Melo.
"A lei é clara: embora [o alvará dos bombeiros] esteja expirado, enquanto a renovação estiver tramitando, não é cabível a interdição do local", completou o coronel.
O alvará dos bombeiros é pré-requisito para que a prefeitura conceda a licença de funcionamento do local.
Essas primeiras declarações do comando dos bombeiros, porém, logo caíram por terra.
Essas primeiras declarações do comando dos bombeiros, porém, logo caíram por terra.
O governo do Estado, ao qual a corporação está subordinada, disse que, sim, a casa noturna deveria estar fechada. Em seguida o comando militar gaúcho, também acima dos bombeiros, admitiu que a última vistoria na Kiss ocorrera em agosto de 2011, e não de 2012, como afirmara no primeiro momento.
Acuados pelos superiores, os bombeiros se calaram.
Tragédia em Santa Maria
Deixaram de responder, por exemplo, se duas portas de emergência, lado a lado, eram de fato suficientes e bem posicionadas. Também não divulgaram o laudo da inspeção realizada na casa em agosto de 2011.
A ação de salvamento dos bombeiros também virou alvo dos advogados dos sócios da boate. Eles chamaram de "desastrosa" a operação, em especial por ter utilizado civis sem treinamento, o que é proibido pelo regimento.
"Deixei que civis ajudassem", revelou à Folha no início da semana o sargento Robson Müller, que comandou o resgate na tragédia.
Um inquérito militar foi instaurado para apurar eventuais irregularidades no resgate e na liberação do prédio, quando da realização da última vistoria, em 2011.
Fonte: Folha de São Paulo
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